19 de abril de 2013

Inocência?

(...) E todos os flashes estavam voltados para aquele caso. Era na verdade, só mais um caso. A verdadeira vítima pouco importava, já que mortos não falam, essa é a regra. Os motivos, ficam apenas com a vítima,  registrados para sempre embaixo da terra.
O corre-corre era geral para ver quem conseguia o melhor ângulo para a  foto daquele assassino. Aliás, assassino não, vítima da sociedade. Sim, já que era deste modo, que aquele menor de idade era tratado, mais uma vítima da sociedade. Seu crime? Nascer pobre, negro,  ser analfabeto, talvez por escolha própria e morador de periferia, aqueles de barracos de madeira mesmo, construído por seu pai, ao qual não conhecia, feito em uma noite qualquer, num pagode ou forró qualquer, em meio a bebedeira, cigarros e drogas. Isso só era possível saber, porque sua mãe, negra, gorda, solteira e diarista de um apartamento de luxo no centro de São Paulo, havia lhe contado. Esse era o perfil daquela ''criança de dezessete anos'', que atirara sem pensar, em uma mulher de vinte e quatro anos, loira, olhos verdes, pele branca, mãe de uma linda criança, com um casamento estável, juntamente com sua condição financeira, feliz com o marido, empresário do ramo de transportes, honesto e trabalhador, com mestrado, phd em administração, com uma linda casa de 10 cômodos em uma região nobre de São Paulo e um carro de valor altíssimo na garagem. O crime da moça? Ter nascido rica e privilegiada na vida. Ela tinha uma família feliz e unida, todos sorridentes com a vida e todos religiosos.
A moça branca, morta com um tiro na cabeça, por causa de uma bolsa, já não fazia mais parte da sociedade. Era apenas um número e nada mais. Sua vida, já não tinha mais importância.
Os debates nas redes sociais e televisão, eram agora mais importante, já que o principal responsável, estava ali, vivo, preso e com a cabeça cheia de barbáries para um futuro vindouro. Com dezoito anos, sairia da cadeia. Portanto, em sua face, não havia remorso.
Todo o tipo de questionamento era viável na televisão, rádio, associações de direitos de defesa da criança, advogados querendo aparecer na mídia com suas opiniões mesquinhas e sem nexo. O governo, para os hipócritas de plantão, era o maior responsável pela aquela tragédia. Mas, e a índole da '' tal criança''?
Não, sua índole, muito ruim por sinal, não poderia ser alvo de discussões, já que ele, e não a moça branca, era a principal vítima da sociedade. Ele não teve oportunidades, ninguém o ouviu.
Psicólogos, antropólogos, sociólogos, psiquiatras e mais um bando de imbecis o tratavam como um doente. O menino era ruim mesmo, invejoso dos mais privilegiados na vida. Tinha raiva por ele ser o que era na vida, um pobre, drogado, favelado, ladrãozinho contumaz. Não, tais adjetivos não poderiam ser usados contra ele.
Quem era o culpado então? O judiciário? Os políticos de Brasília?
Não seria o próprio marginal, o culpado?
A excitação do caso em todas a emissoras, rendendo índices de ibopes nunca antes alcançados era mais interessante. 
Nos bares, nos transportes públicos, na sala de espera de um hospital, escolas, dentro das fábricas, nas universidades, o estrelismo ou amadorismo perante a ''estrela assassina'', era motivo de debates.
E a moça, como milhares de cidadãos de bem, que morrem asquerosamente pelas mãos desses bandidinhos mirins, protegidos pelo E.C..A e parte da população, como ficam?
As leis que não mudam jamais, haja vista que são do século passado, data de 1948.
Nada disso importava naquele instante. O que importava era saber, como um jogo de adivinhação, quanto tempo aquela '' criança'' ficaria na cadeia. Se é que ficaria.
A ''criança'' virou capa de revistas e jornais, rendeu lucros com a tragédia de outrém. Virou canção de rap para os favelados. Artistas de elite o abençoavam como o humilhado pelo governo, e davam a ele, oportunidade de estudar e ser ''alguém na vida''.
E a família daquela moça branca, assistia á tudo, indignada por não terem sido elas, amparadas pelos direitos humanos. E não o fizeram pelo o simples fato de que, a família da moça branca, tinha dinheiro e não renderia o suficiente para vender .
Enquanto isso, bem ali perto, num raio sabe-se-lá de quantos quilômetros, outras mães e pais enterravam seus filhos, negros, brancos, asiáticos ou qualquer outra origem, vítimas de mais um marginalzinho, vítima da sociedade.
A vida, seguia ao derradeiro, ao herói bandido, de idade inferior a dezoito anos, livre para fazer o que bem quisesse da sociedade brasileira. No dia seguinte, era rezar para que outros fatos parecidos não acontecessem.
Amigos e amigas do Opinião e Crítica Brasil, maioridade penal, já?