5 de outubro de 2013

Um para o cafézinho?

Amigos e amigas do Opinião e Crítica Brasil, vai um cafézinho aí? Boa maneira de começar, não?Seria bom não fosse a postura ou arrogância de alguns para com o seu semelhante. I
sso não é caridade, é só comentário mesmo.Já passava das onze da manhã, ali no Brás, terminal de ônibus com acesso ao Metrô, quando vejo um senhor de aparência um tanto sofrida, algo em torno de uns cinquenta anos, magro, com calça de moletom, tênis e uma camiseta da igreja ''Mundial do Poder de Valdemiro Santiago'' , pseudo Deus para os milhares de miseráveis, que frequentam religiosamente, seus cultos de infâmia e exploração de fé alheia.
Esse senhor citado por mim, seguia seu caminho tranquilamente quando foi abordado por um destes moradores de rua, esse sim verdadeiro miserável e sem sorte na vida.
O morador de rua, presumo que após várias tentativas talvez inúteis de arranjar um trocado, se aproxima deste senhor de fé e educadamente lhe pede um troco para tomar um café. O morador de rua ainda avisa:
''Não é para droga ou pinga não seu moço, é apenas para um café''. Neste dia, fazia um frio danado por sinal.
O ''bom servo de Deus, ou de Valdemiro Santigo'' , seja lá o que for, não pensa duas vezes e começa a proferir impropérios ao ''distinto'' morador de rua, chamando-o de vagabundo, drogado, porco e outras coisas impronunciáveis. Assisto á tudo passivamente.
A coisa segue de uma maneira imoral com o senhor dizendo ao morador de rua que era aposentado, que havia trabalhado a vida toda para poder andar tranquilamente e sem se preocupar com nada, ainda mais na hora de ''ir buscar á Deus''. O morador de rua não se dá por vencido e repete que deseja só um café, não briga ou bate boca.
As pessoas passam para todos os lados, sem se importar com aquilo que não lhe dizem respeito, a fome de um semelhante. Continuo a assistir e ouvir os insultos daquele fiel seguidor do já referido Valdemiro Santiago e de sua lavagem cerebral.
O morador de rua então começa aos brados perguntar para aquele aposentado, supostamente honesto e em dias para com a sociedade, o que ele havia aprendido na igreja de Valdemiro Santiago. Incríveis foram as palavras daquele desafortunado com a vida ao dizer que, já fora expulso da igreja Mundial do Poder de Valdemiro só por ter pedido para usar o banheiro e um pouco de água.
Questionava, o morador de rua, ao aposentado, qual o conceito de vida ele aprendera ao doar parte de sua aposentadoria para a igreja. Eu ficava embasbacado com aquilo.
O morador de rua com o semblante cansado e sujo, mas com uma certa postura relembra para o orgulhoso aposentado, um trecho da bíblia, citando Mateus 25, o qual me levou, confesso, as lágrimas:
'' Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.''
O aposentado furioso, partiu batendo os pés, incomodado com as palavras proferidas por aquele homem, de vestimentas imundas e mal cheirosas, barba por fazer, cabelos por cortar, de pele queimada e mal tratado pela vida. Aquilo foi mágico.
O morador de rua seguiu seu caminho em busca de um café para começar o seu dia, com certeza satisfeito por estar mais um dia, vivo.
Não me contive, chamei-o, e lhe dei R$ 5.00 para continuar de alguma forma, mais um dia de luta pela sobrevivência. O morador de rua nada me disse, balançou a cabeça e foi-se embora.
Eu, ganhei meu dia.