E lá vem aquele senhor
de idade avançada, barba por fazer, roupas velhas e rasgadas, cabeça
sempre pendente para o lado, talvez por causa de uma doença ou
nascimento mesmo, empurrando seu velho carrinho de supermercado, com
três galões de água de 20 litros, em sua rotina diária, buscar
água para o seus companheiros de rua. Sim, este senhor é um morador
de rua. Sempre o vejo. Nunca trocamos uma palavra se quer. É um
senhor tranquilo e sempre simpático com o rapaz responsável pela
limpeza do banheiro e que está, sem questionar nada, sempre a ajudar
este bom senhor. O rapaz responsável pelo banheiro, é uma pessoa
educada, trata a todos com simpatia e sorriso no rosto. É sua
maneira de trabalhar. Com certeza, o funcionário padrão.
Este rapaz me diz algo
que me é estarrecedor, sobre um outro funcionário, do período da
tarde, que sem pensar na situação daquele senhor, cobra-lhe,
descaradamente, um refrigerante " Dolly " para que. o
senhor possa pegar mais água a tarde.
Comento com o rapaz da
manhã, que isso é o velho hábito da corrupção, já que a água,
é uma dádiva sagrada e jamais deveria ser comercializada.
A companhia do
''Metrô'' já é o suficientemente rica para negar água a quem tem
sede, mas o caso não é com a empresa em questão. Trata-se de uma
funcionário de uma contratada do ''Metrô'' para a manutenção
diária de seus inúmeros banheiros.
Percebo aí, uma
prática pertinente a qualquer setor e classe da sociedade
brasileira, a famosa e danosa corrupção.. É cruel e desumano que,
um ser pobre de recursos, mas que trabalha, logo é um assalariado,
corromper um outro pobre, sem qualquer recurso na vida e que vive a
míngua da sociedade, negar- lhe o direito a um galão de água,
porque este não pode lhe dar um refrigerante Dolly.
Qual é então, o
caráter do cidadão brasileiro?
Onde está sua educação
e bom senso?
Com que direito, o
rapaz do turno da tarde, faz uma coisa desta?
Não é a toa que
nossos políticos, fazem a " festa " com a vida dos
brasileiros. E por que?
Porque o brasileiro é
conivente.
Aprendem, desde cedo,
a margem da pobreza, a arrancar do meio onde vivem, dentro de suas
próprias comunidades, os que consideram ser seus irmãos da miséria.
O que se pode esperar
de um povo deste, que se vale da falta de sorte alheia, para
cobrar-lhe um medíocre guaraná?
Não se pode esperar
absolutamente nada! É revoltante e degradante até.
Ouço isso e o silêncio
me domina. Tenho vontade de gritar a plenos pulmões o que se passa
em cabeça, ao ouvir algo assim, mas é melhor não. Eu jamais iria
solucionar tal problema.
Continuo por ali afim
de terminar meu dia e voltar para a minha casa, e dar continuidade a
minha vida. Afinal, sou brasileiro e não desisto nunca.